Caso Marielle e Anderson: PM reformado e ex-PM são presos suspeitos do crime
Policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil e promotores do
Ministério Público do Rio de Janeiro prenderam, por volta das 4h30 desta
terça-feira (12), o policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48
anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos. A
força-tarefa que levou à Operação Lume diz que eles participaram dos
assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Os crimes completam um ano nesta quinta-feira (14).
O que diz a denúncia
PM reformado Ronnie Lessa é o autor dos 13 disparos que mataram Marielle
e Anderson; ele estava no banco de trás do Cobalt que perseguiu o carro
da vereadora.
Ex-PM Élcio Vieira de Queiroz dirigiu o Cobalt na noite do crime.
“É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada
em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a
denúncia. A nota do MP descreve como "barbárie" e "golpe ao Estado
Democrático de Direito" o assassinato cometido na noite de 14 de março
do ano passado.
A investigação ainda tenta esclarecer quem foram os mandantes do crime e a motivação.
Prisões
Segundo informações obtidas pelo G1, Ronnie e Élcio estavam saindo de
suas casas quando foram presos. Eles não resistiram à prisão e nada
disseram aos policiais.
Ronnie estava em sua casa em um condomínio na Avenida Lúcio Costa, na
Barra da Tijuca, o mesmo onde o presidente Jair Bolsonaro tem
residência. Élcio mora na Rua Eulina Ribeiro, no Engenho de Dentro.
A Operação Lume cumpre ainda 32 mandados de busca e apreensão contra os
denunciados para apreender documentos, telefones celulares, notebooks,
computadores, armas, acessórios, munição e outros objetos. Durante todo o
dia, haverá buscas em dezenas de endereços de outros suspeitos.
Após a prisão de Ronnie, agentes fizeram varredura no terreno da casa
dele e encontraram armas e facas. Detectores de metais foram usados para
vasculhar o solo, e até uma caixa d'água passou por vistoria.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) disse que, apesar das duas
prisões, o caso "não está resolvido". Amigo de longa data, ex-chefe e
correligionário de Marielle, ele questionou: "A mando de quem [ela foi
assassinada]?".
"São prisões importantes, são tardias. É inaceitável que a gente demore
um ano para ter alguma resposta. Então, evidente que isso vai ser visto
com calma, mas a gente acha um passo decisivo. Mas o caso não está
resolvido", disse Freixo em entrevista ao G1 e ao Bom Dia Rio.
"Ele tem um primeiro passo de saber quem executou. Mas a gente não
aceita a versão de ódio ou de motivação passional dessas pessoas que
sequer sabiam quem era Marielle direito."
Três meses de pesquisas
Ronnie foi levado à Divisão de Homicídios do Rio por volta das 4h30. De
acordo com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado, o crime foi meticulosamente planejado durante três
meses.
A investigação aponta que Ronnie fez pesquisas na internet sobre locais
que a vereadora frequentava. Os investigadores sabem ainda que, desde
outubro de 2017, o policial também pesquisava a vida de Freixo.
Ronnie teria feito pesquisas sobre o então interventor na segurança
pública do Rio, general Braga Netto, além de buscas sobre a
submetralhadora MP5, que pode ter sido usada no crime.
A polícia afirma ainda que Ronnie usou uma espécie de "segunda pele" no
dia do atentado. A malha que cobria os braços serviria, segundo as
investigações, para dificultar um possível reconhecimento.
Nome da operação
A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Centro do Rio,
conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto
chamado Lume Feminista. No local, ela também costumava se reunir com
outros defensores dos direitos humanos e integrantes do PSOL.
Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra "lume"
compõe a expressão "trazer a lume", que significa trazer ao conhecimento
público, vir à luz.
'Marielle incomodava', diz assessora
Assessora que estava ao lado de Marielle Franco quando a vereadora foi
executada, Fernanda Chaves afirmou que a chefe incomodava. No entanto,
ela não soube identificar uma situação específica para justificar o
atentado. "Era um conjunto de coisas, a Marielle incomodava", afirmou.
Neste domingo (10), Fernanda falou pela primeira vez sem esconder o
rosto. "Ela era obviamente crítica à ação das milícias, não tinha as
milícias como alvo. Institucionalmente, ela tinha uma limitação como
vereadora. O mandato dela estava muito mais voltado para questões de
gênero, de violência contra a mulher", acrescentou Fernanda.
A assessora acrescenta que Marielle não tinha se indisposto com ninguém
na época. "Ela não teve um problema específico que pudesse ter
engatilhado uma situação que culminasse com o assassinato dela", disse.
Linhas de investigação
A DELAÇÃO
Em maio de 2018, quase dois meses após o crime, uma publicação do jornal
"O Globo" mostrou indícios do que pode ter sido a articulação para
matar Marielle. De acordo com a reportagem, uma testemunha deu à polícia
informações que implicaram no crime o vereador Marcello Siciliano (PHS)
e o ex-PM e miliciano Orlando Curicica.
A testemunha – que integrava uma milícia na Zona Oeste do Rio e foi
aliada de Orlando – contou à polícia ter ouvido uma conversa entre
Siciliano e o miliciano na qual os dois arquitetaram a morte da
vereadora. A motivação para o crime, segundo a testemunha, seria a
disputa por áreas de interesse na região de domínio de Orlando.
"Ela peitava o miliciano e o vereador. Os dois [o miliciano e Marielle]
chegaram a travar uma briga por meio de associações de moradores da
Cidade de Deus e da Vila Sapê. Ela tinha bastante personalidade. Peitava
mesmo", revelou a testemunha, de acordo com o jornal.
Tanto Siciliano quanto Orlando negam ter planejado a morte da vereadora.
No mês seguinte, o miliciano foi, a pedido da Segurança Pública do RJ,
transferido para uma unidade prisional de segurança máxima.
Pontos da delação:
Testemunha diz que Marcello Siciliano (PHS) e Orlando de Curicica queriam Marielle morta
Motivação seria avanço de ações comunitárias da vereadora na Zona Oeste
Conversas sobre o crime teriam começado em junho de 2017
Ex-aliado de Orlando citou, além de Siciliano e o miliciano, outras quatro pessoas
Um homem chamado "Thiago Macaco" teria levantado informações sobre Marielle
VINGANÇA
Outra linha de investigação surgiu em agosto: Marielle, que trabalhou
com o então deputado estadual Marcelo Freixo, teria sido morta por
vingança.
"Tudo o que eu construí no Rio de Janeiro, ela construiu comigo. Então, é
claro que, quando alguém mata a Marielle, me atinge de forma muito
forte, de forma muito brutal. Não sei se essa era a intenção de quem
matou a Marielle", disse o hoje deputado federal.
Os deputados do MDB fluminense Paulo Melo, Jorge Picciani e Edson
Albertassi, adversários políticos de Freixo, passaram a ser
investigados. Presos por corrupção, os parlamentares negaram
envolvimento no crime.
Também em agosto, foi noticiada a descoberta de um grupo que ficou
conhecido como Escritório do Crime, uma quadrilha formada por policiais e
ex-policiais. O envolvimento desse grupo nos assassinatos de Marielle e
Anderson explicaria a dificuldade para esclarecer o caso.
INVESTIGAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
A Polícia Federal começa a apurar a possibilidade de haver fraudes na
investigação do caso. Em 21 de fevereiro, a PF cumpriu mandados de busca
e apreensão para apurar tentativas de dificultar os trabalhos dos
investigadores.
Fonte: G1
Fonte: G1
Caso Marielle e Anderson: PM reformado e ex-PM são presos suspeitos do crime
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