Apreensão de 9 adolescentes em 48 horas na Bahia põe escolas em alerta
Ao
menos nove adolescentes já foram apreendidos pela Polícia Civil em
Salvador e no interior do estado por possível envolvimento e propagação
de ameaças de ataques contra escolas. Nessa terça-feira (11), durante a
Operação Escola Segura, desenvolvida para prevenir e reprimir ataques
nas instituições de ensino em todo o país, equipes da Polícia Civil
apreenderam cinco adolescentes em Juazeiro, Iaçu, Maiquinique, Paratinga
e Itapetinga. Outros quatro confirmados pela pasta foram apreendidos
nos municípios de Salvador, Ituberá, Vitória da Conquista e Itarantim na
segunda-feira (10).
De acordo com
Delmar Bittencourt, coordenador do Laboratório de Inteligência
Cibernética da Polícia Civil (Cyberlab), é possível que o número de
apreensões seja ainda maior. “Tem outros casos, mas ainda não compilamos
os dados de hoje [ontem]. A quem está disseminando boatos de ataque nós
estamos levando busca e apreensão nas residências e levando a unidade
da polícia para analisar qual é o teor da mensagem e responsabilizar
pelo crime praticado”, afirma o delegado.
Por
conta das ameaças e ataques pelo país, as escolas, em Salvador, estão
se mobilizando para reforçar a segurança dentro e fora das suas
dependências. O Colégio Oficina, na Pituba, fez um comunicado relatando
aos pais e alunos que deu início ao contato com a Polícia Militar para
reforçar a necessidade de ampliação da Ronda Escolar. O colégio já conta
com sistema interno de câmeras, catracas de identificação de acesso por
biometria e grupo de brigadistas treinados para emergências, que,
inclusive, foi reforçado.
Já o
Colégio Antônio Vieira, no Garcia, acionou o Comitê Interno de
Gerenciamento de Riscos e anunciou a ampliação das medidas gerais de
segurança, como diálogos com as autoridades de segurança estaduais,
maior controle de acessos, requalificação das barreiras físicas e
reforço do treinamento da equipe de segurança.
Em
comunicado, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da
Bahia (Sinepe-BA) indicou que vem propondo maior atenção aos humores e
comportamentos atípicos de pessoas da comunidade escolar e orientou que
todos tenham em mãos o telefone do Samu (192), Polícia Militar (190),
Ronda Escolar e Corpo de Bombeiro (193) e identificação daqueles que
acessam a instituição de ensino. Incentivou ainda o diálogo e a
manutenção dos portões fechados nas unidades.
Sem
dispor dos mesmos recursos de segurança, as escolas da rede estadual
tiveram o policiamento reforçado em alguns locais do estado, como Porto
Seguro e a capital, para assegurar a entrada e saída de alunos, pais e
professores.
Em Lauro de Freitas,
na região metropolitana, a Secretaria Municipal de Educação solicitou
apoio à Guarda Municipal e à Polícia Militar para averiguar boatos e
aumentar a segurança nas escolas. A medida conta com a disponibilização
do efetivo da ronda escolar em um plano de ação preventiva. Segundo a
Prefeitura, ainda é estudada a possibilidade de implementação de uma
força-tarefa e segurança nas escolas públicas e privadas do município.
Para
realizar o controle de ameaças de ataques contra escolas, a Polícia
Civil está trabalhando junto ao Ministério da Justiça e à Secretaria de
Segurança Pública (SSP) para fazer buscas nas redes sociais e checagem
de denúncias. Até o momento, no entanto, não há estimativa de quantas
denúncias foram feitas ou quantos boatos foram analisados.
Segundo
o delegado Delmar Bittencourt, o processo de monitoramento de possíveis
suspeitos começa quando a Polícia Civil recebe a informação de ameaça. A
partir daí, as equipes fazem um filtro para saber se o compartilhamento
é da Bahia ou de outro estado.
“Se
for na Bahia, analisamos todas as características e, se entendermos que é
necessário dar seguimento às investigações, em um trabalho de
inteligência maior, nós chegamos até os autores”, detalha.
Quem
estiver encaminhando informações falsas com intenção suspeita de
cometer crime é identificado e a Polícia Civil pode fazer busca e
apreensão para localizar armas, apreender dispositivos e verificar se há
uma rede por trás das ameaças.
Para
auxiliar as forças policiais, o Ministério da Justiça abriu um canal de
comunicação para receber denúncias de todo o país. Procurada, a pasta
informou que as denúncias recebidas estão sendo tratadas por uma equipe
de policiais e, dependendo da gravidade, os encaminhamentos são
direcionados à polícia local ou à unidade respectiva que tem atribuição
para investigação do fato e suas circunstâncias. Por questões de
segurança, o Ministério da Justiça disse que nem os números nem os
locais da denúncia serão divulgados.
A
Polícia Militar da Bahia foi procurada para saber se há ação articulada
para todo o estado e quais municípios acionaram o policiamento militar
para reforço da segurança nas escolas, mas não respondeu às duas
tentativas de contato feitas pelo CORREIO até a publicação desta
matéria.
Políticas públicas
Em
nota, a Secretaria da Educação do Estado (SEC) não soube quantificar
quantas ameaças já chegaram às escolas da rede, mas informou que, ao
serem identificados, os supostos casos de ameaça são imediatamente
comunicados à Secretaria de Segurança Pública (SSP). Em conjunto, as
duas pastas disponibilizaram um canal através do 181 para a comunicação
de possíveis ameaças.
As informações
serão tratadas de maneira emergencial pela Superintendência de
Inteligência e, imediatamente, repassadas para as forças policiais,
visando a pronta resposta, quando cabível. Fotos, prints e vídeos também
podem ser enviados através do site do Disque Denúncia.
Em
Salvador, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) disse que ainda não
foi identificada nenhuma ameaça de ataque escolar, mas o assunto já
entrou no radar. “Estão repensando em um planejamento estratégico para
inibir todo e qualquer tipo de violência que venha ocorrer nas unidades
escolares. Dentre as ações constam a realização de palestras e
discussões com o objetivo de esclarecer para a comunidade escolar as
consequências de tais atos”, diz trecho da nota.
Ainda
nessa terça-feira (11), um projeto de lei protocolado na Assembleia
Legislativa da Bahia (Alba) propôs a obrigatoriedade na instalação de
portais de detecção de metais no acesso às unidades públicas de ensino.
No texto, o deputado proponente, Patrick Lopes (Avante), que integra a
base governista, destaca a realização de revistas a estudantes,
funcionários ou visitantes, se necessário.
Como lidar com o medo
Diante
de uma situação adversa que causa tumulto e pânico é quase impossível
manter a calma, prever onde a situação está instaurada e até onde tem
uma ‘fake news’ causada pelo medo. É o que aponta a psicóloga clínica
Ingrid Nayan ao abordar o sentimento inevitável que muitos pais, alunos e
professores estão vivenciando nas últimas semanas com as ameaças de
ataques às escolas.
Para ela só há
um caminho a ser percorrido. “Primeiro passo é o acolhimento. É mostrar
para a criança que, apesar da situação pontual, a escola ainda é um
lugar seguro e que, juntos, eles [família e criança] vão passar por essa
adversidade, com o auxílio de psicólogos e a ronda escolar e aumento do
esquema de segurança nas escolas”, afirma.
O
ataque à escola em Barreiras, no Oeste da Bahia, que terminou com uma
estudante cadeirante morta em setembro do ano passado, ou mesmo os
boatos de possíveis outros ataques são parte do dia a dia da professora
Karla Daniela Cupertino. Há 32 anos lecionando, ela descreve o momento
atual na sala de aula como “tenso, incerto e com uma agitação além da
própria de uma escola”.
“As alunas e
alunos têm trocado informações que circulam pela internet, informações
que não sabemos de onde surgiram, com muito medo, muitos não querem ir
para escola e alguns já não compareceram hoje [ontem]. Os boatos crescem
numa proporção que não conseguimos dar conta”, lamenta.
Ainda
de acordo com a psicóloga Ingrid Nayan, para acalmar a crise, o medo e o
pânico instaurado, sobretudo no caso de crianças, é preciso desviar o
foco. Para isso, o controle emocional dos adultos é extremamente
importante e deve ser trabalhado porque tem impacto direto sobre as
crianças.
Pai de uma aluna do
Colégio Antônio Vieira, que preferiu não ter seu nome divulgado, conta
que busca adotar sempre a tranquilidade diante das informações sobre
ameaças de ataques nas escolas para não assustar a filha. Para ele, como
a maioria dos ataques tem os alunos como autores, as medidas a serem
tomadas devem passar pela educação escolar.
“Acho
que é melhor um acompanhamento da saúde dos alunos e dos professores do
que qualquer tipo de parafernália de segurança que corresponde mais a
um anseio de aumentar o policiamento, que já vimos em outros países,
como os Estados Unidos, e que não funciona”, defende.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro
Fonte: Correio*
Apreensão de 9 adolescentes em 48 horas na Bahia põe escolas em alerta
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