Barragens tipo a que provou desastre em Minas Gerais, causam preocupação em Santaluz e Jacobina
Apesar disso, elas não aparecem entre as
16 mais inseguras do país, segundo relatório divulgado em abril pelo
DNPM, e apenas uma está em plena atividade.
Barragem 02, em Jacobina, passou por vistoria recente (Foto: Almacks Silva/Comitê da Bacia do Rio Salitre) |
Quatro das 24 barragens de rejeitos de minérios existentes na Bahia
possuem classificação idêntica à Barragem do Fundão, que rompeu no
último dia 5, em Mariana (MG), deixando um rastro de morte e destruição
por mais de 650 km, após uma lama de resíduos ser liberada com o
rompimento de um reservatório. Duas delas ficam em Jacobina, no
Centro-Norte do estado, e as outras duas em Santaluz, no Nordeste
baiano, onde as barragens possuem dano potencial associado (DPA)
considerado alto pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Apesar disso, elas não aparecem entre as 16 mais inseguras do país,
segundo relatório divulgado em abril pelo próprio DNPM, e apenas uma
está em plena atividade. As outras não têm sido utilizadas, mas
armazenam material de rejeitos – a Barragem 01, em Jacobina, inclusive,
preencheu toda a capacidade de armazenamento em 2008. Já as de Santaluz
não estão ativas, segundo a Fazenda Brasileiro S/A, subsidiária da
Yamana, que administra as barragens.
As quatro, assim como ocorria com a barragem do Fundão – que despejou
55 milhões de m³ cúbicos de rejeitos de minério de ferro na natureza -,
também coincidem na classificação da Categoria de Risco (CRI), que é
baixa. “Se o CRI for baixo, mesmo com DPA alto, a barragem não é
necessariamente perigosa”, explica o chefe da Divisão de Fiscalização do
DNPM, Eriberto Leite.
A semelhança entre os perfis, no entanto, ligou um alerta entre
autoridades locais e, principalmente, nas populações que vivem próximas
dessas estruturas. Uma das preocupações diz respeito aos planos de
evacuação em caso de acidente, apresentados pelas empresas para
conseguir a licença de funcionamento. Até agora, entre as quatro, nenhum
foi posto em prática.
Sem aviso
Sem alertas sonoros na região onde está instalada, que serviriam para
avisar a população em caso de acidente, a Barragem 02, também
administrada pela Yamana Gold, em Jacobina, é a que mais preocupa,
segundo o engenheiro de Minas e professor da Universidade Federal da
Bahia (Ufba) José Baptista Oliveira. Ele também cita o perigo que pode
representar o vazamento dos rejeitos nas quatro barragens com alto
potencial de devastação, já que todas trabalham com o beneficiamento de
ouro. “É comum fazer o processo de lixiviação do ouro com cianeto, que é
uma substância tóxica e pode matar”, citou. Ele também lista o arsênico
como produto comumente usado para obter o minério e que pode causar
danos graves à saúde.
O CORREIO questionou a Yamana sobre as substâncias presentes em suas
barragens de rejeito, mas a empresa não especificou quais são
utilizadas. Em relação à Barragem 01, que está sendo desativada, a
companhia informou que continua monitorando a estrutura, que foi
aterrada.
Alcance
As barragens de Jacobina ficam próximas de comunidades que reúnem
cerca de 500 habitantes, 300 a menos que em Bento Rodrigues, localidade
devastada pela lama de minério, onde 13 pessoas morreram e outras 11
seguem desaparecidas. Um eventual rompimento da Barragem 02, que tem
capacidade para receber 27 milhões de m³ de rejeitos (o equivalente a
10.800 piscinas olímpicas, ou seja, quase a metade do total de rejeitos
liberados em Mariana), por exemplo, poderia causar um dano ambiental sem
precedente na Bahia. Atualmente, 14% do reservatório está preenchido, e
a projeção é que chegue a sua totalidade já em 2020.
Um eventual acidente poderia atingir o Rio Itapicuru, que ajuda a
abastecer 54 cidades, só desaguando em Prado, no Litoral Sul do estado.
“Poderia descer a água suja em direção ao rio, mas o material já estaria
bem dissolvido. O afluente (Itapicuruzinho) tem 12 km de extensão, e
destes, apenas cinco seriam atingidos, causando possivelmente o
assoreamento”, amenizou o secretário de Meio Ambiente de Jacobina, Ivan
Aquino.
Segundo a Embasa, Jacobina é abastecida por quatro mananciais, sendo que um deles capta água justamente do Itapicuruzinho.
Apesar dos cenários caóticos imaginados, para o superintendente do
DNPM, Osmar Almeida da Silva, incidentes como o ocorrido em Mariana não
acontecem de um dia para o outro. “São eventos muito lentos, mas não
podemos negligenciar o desastre. Deve ser feita uma perícia para
explicar o desastre, inclusive, para que sirva de lição”, ressaltou.
Segundo Aquino, a prefeitura de Jacobina vem acompanhando de perto as
barragens locais. No último dia 19, por exemplo, houve uma reunião com a
Mineração Jacobina, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, moradores e a
prefeitura. “A empresa fez uma simulação do que aconteceria e um projeto
de evacuação está sendo preparado”, revelou.
Precedente
Apesar de ser algo considerado improvável, já há registro de acidente
com vazamento na Barragem 01, em Jacobina. Segundo um relatório do
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da Bahia (Crea-BA), de
outubro de 2006, apesar de não ter sido constatado vazamento de material
de rejeito de minério, foi necessário fazer medição na qualidade da
água do rio no seu entorno, após a fuga de material. Um geólogo da
entidade considerou que o tal “acidente” foi em decorrência de
“problemas operacionais na unidade de beneficiamento” e pediu para que a
empresa fornecesse os “estudos e projetos que garantissem a segurança
do barramento”. O vazamento foi verificado durante a Fiscalização
Preventiva Integrada (FPI), uma atividade periódica promovida pelo
Crea-BA para mapear irregularidades que coloquem em risco a vida das
pessoas.
Em Santaluz, segundo a Fazenda Brasileiro S/A, subsidiária da Yamana,
a suspensão das atividades nas duas barragens de alto dano potencial
não interrompeu o monitoramento, que continua sendo feito de acordo com o
Sistema de Gestão de Barragens (Sygbar). Ao CORREIO, a empresa informou
que a Barragem de Flotação e a Barragem de Lixiviação apresentam
atestado de estabilidade comprovado por um auditor externo. Ainda
conforme a mineradora, estão sendo realizados novos testes de
recuperação metalúrgica e estudos econômicos no local.
AS QUATRO BARRAGENS DA BAHIA COM DANO POTENCIAL ELEVADO
Barragem 01 – Atingiu sua capacidade máxima de 8 milhões de m³ e foi
fechada em Jacobina, sendo aterrada e submetida a processo de
revegetação. Tem 61 m de altura.
Barragem 02 – Construída em 2009, perto da primeira, tem 10 m de
altura em seu barramento e capacidade de armazenar 27 milhões de m³.
Barragem de Flotação – Fica em Santaluz e apresenta 38 m de altura e
18,6 milhões de m³ de capacidade. Está desativada. Empresa ainda está
reavaliando a reativação.
Barragem de Lixiviação – Tem 32 m de altura e capacidade de receber
2,3 milhões de m³ de rejeitos de minério. Também está sob reavaliação.
Redação Correio24horas
Barragens tipo a que provou desastre em Minas Gerais, causam preocupação em Santaluz e Jacobina
Reviewed by Aelson fotos
on
13:34
Rating:
Nenhum comentário